BRASÍLIA — Três ministros do
Supremo consideraram extremamente grave a declaração do deputado Eduardo
Bolsonaro . Um deles lembrou que, para fechar o Supremo Tribunal
Federal, “o que nem a ditadura tentou”, será preciso “antes disso revogar a
Constituição”. Eles preferiram falar sem serem citados porque a decisão tomada
é a de que o STF fale por uma única voz - do presidente Dias Toffoli, que
estava em um congresso em Veneza, ou do decano Celso de Mello.
Dias Toffoli ainda não se pronunciou,
mais de 24 horas depois de o vídeo do deputado irromper nas redes sociais. O
presidente da Corte " não quis botar mais lenha na fogueira", disse um assessor
direto ao colunista do GLOBO Lauro Jardim.
O decano Celso de Mello classificou a
afirmação como "inconsequente e golpista" em nota enviada por escrito
ao jornal "Folha de S. Paulo". O ministro ressaltou na mensagem que a
votação recorde do deputado - o mais votado da História do país - não legitima
"investidas contra a ordem político-jurídica".
"Essa declaração, além de
inconsequente e golpista, mostra bem o tipo (irresponsável) de parlamentar cuja
atuação no Congresso Nacional, mantida essa inaceitável visão autoritária, só
comprometerá a integridade da ordem democrática e o respeito indeclinável que
se deve ter pela supremacia da Constituição da República!!!! Votações
expressivas do eleitorado não legitimam investidas contra a ordem
político-jurídica fundada no texto da Constituição! Sem que se respeitem a
Constituição e as leis da República, a liberdade e os direitos básicos do
cidadão restarão atingidos em sua essência pela opressão do arbítrio daqueles
que insistem em transgredir os signos que consagram, em nosso sistema político,
os princípios inerentes ao Estado democrático de Direitos", destacou o
decano Celso de Mello.
Um dos ministros que não se
identificar avaliou ao GLOBO a manifestação de Eduardo Bolsonaro como "uma
mistura de autoritarismo com despreparo".
— É uma declaração despropositada,
sequer a matéria envolve o Supremo, a matéria é de competência do TSE. É uma
mistura de autoritarismo com despreparo. Já é o segundo pronunciamento de gente
das hostes dele nesse sentido em poucos dias — disse um dos ministros.
Ele se referia ao general Eliéser
Girão, eleito deputado pelo PSL do Rio Grande do Norte, que propôs a prisão de
ministros do Supremo que soltassem condenados por corrupção.
— O que ele falou, e ele já é
deputado, é golpista. Nem a ditadura fez o que ele disse que é fácil fizer. Em
1969, foram cassados três ministros, mas o STF nunca foi fechado.
Outro ministro disse que tem ficado
cada vez mais claro o risco da eleição de um populista de direita, mas que o
STF não faltará à nacionalidade. Um terceiro ministro disse que o país está
muito tumultuado e que, por isso, todos preferem que o pronunciamento seja de
uma só voz. O momento é grave demais para que várias vozes falem pelo STF.
Contudo, a avaliação que fazem é que o assunto deve ser levado a sério porque
Eduardo Bolsonaro chega a dizer que “nós estamos conversando isso lá”.
— É de baixíssimo nível,
impressionante. Sequer a matéria envolve o Supremo. Depois de tantos meses
discutindo a chapa Dilma-Temer, eles ainda não entenderam que esse assunto é do
TSE?
Um ministro ouvido acha que as Forças
Armadas, apesar da ambiguidade de algumas declarações, são ainda “um elemento
de contenção” do grupo, porque não querem “ser confundidos”.
A visão geral no STF é que é grave o
que o deputado Eduardo Bolsonaro falou e que não pode ficar sem uma resposta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do JORNAL ILHÉUS NEWS. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios podem ser removidos sem prévia notificação.