Embora tenha afirmado, oficialmente, que deu início à produção de cloroquina para o tratamento da Covid-19 a pedido do Ministério da Saúde, o Ministério da Defesa começou o processo antes. Documentos enviados pela pasta à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia indicam que a compra dos insumos foi iniciada antes que o medicamento passasse a ser orientado para o tratamento de pacientes graves.
“Atendendo à orientação e à demanda do Ministério da Saúde para a produção de cloroquina no âmbito da Defesa, o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx) ficou encarregado da fabricação e entrega ao demandante, por possuir o registro válido na Anvisa do sobredito medicamento”, diz um trecho do documento divulgado pelo jornal O Globo.
Ele é assinado pelo ministro Walter Braga Netto e indica que a primeira dispensa de licitação para a compra dos insumos que viabilizaram a produção dos comprimidos de cloroquina ocorreu no dia 20 de março. No dia seguinte, 21, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou o aumento da produção do remédio.
“Também, agora há pouco, me reuni com o senhor ministro da Defesa onde decidimos que o Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército deve, imediatamente, aumentar a sua produção desse medicamento”, disse Bolsonaro na ocasião.
Dois dias depois, em 23 de março, os empenhos de pagamento foram feitos e, só no dia 27, o Ministério da Saúde editou a nota que recomendava o uso de cloroquina apenas em pacientes em estado grave.
De acordo com a publicação, dados de 2020 indicam que o Exército já gastou pelo menos R$ 1,1 milhão na fabricação de cloroquina, com a produção de três milhões de doses. A avaliação é de que, considerando o consumo dos anos anteriores, esse estoque seria suficiente para 18 anos.
Essas informações vêm à tona no momento em que a fabricação, distribuição e a defesa ao uso de cloroquina estão no escopo de investigação da CPI e também do Tribunal de Contas da União (TCU). A comissão apura as ações e omissões do governo no combate à Covid-19 e, em meio a isso, a comissão quer saber o que fez o governo investir tanto na produção do medicamento, a despeito das orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) contra o uso do remédio para pacientes infectados pelo coronavírus.
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