Após o recado da Câmara dos Deputados com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o remanejamento de recursos pelo governo federal no Orçamento da União, o tema deve ficar mais leve no Senado. No entanto, será uma boa oportunidade para que a Câmara Alta pressione o presidente Jair Bolsonaro a manter uma relação republicana com o Congresso Nacional, ao invés dos sucessivos embates entre a “nova política” e a “velha política” – que no final são exatamente a mesma coisa.
O sinal de que o Senado não dará vida fácil ao governo é a indicação do presidente Davi Alcolumbre de que a tramitação da PEC aprovada na Câmara vai prosseguir normalmente. Ele poderia contemporizar, diante das trocas de farpas públicas entre Rodrigo Maia e Bolsonaro. Porém não pareceu compadecido com a derrota expressiva sofrida pelo governo, que até tentou fingir que foi uma vitória. Alcolumbre, todavia, não deve tensionar ainda mais a relação. Mesmo porque houve dedo do Palácio do Planalto na eleição dele.
Faz parte também de um jogo de cena. O presidente do Senado não vai comprar uma briga que não é dele com a Câmara e com o correligionário que a preside. Porém a passagem do ministro Paulo Guedes pela Comissão de Assuntos Econômicos mostra que, entre os senadores, o governo ainda não está em pé de guerra. Tanto que, se na Câmara ainda não existe uma base formada, no Senado os aliados detêm uma maioria expressiva.
O pescoço “grosso” de Guedes, inclusive, foi minimizado pelos governistas, que evitaram que o ministro se desgastasse demasiadamente. E as críticas acabaram rebaixadas a barulho da oposição, frente a um ministro cheio de si e detentor das verdades da economia brasileira. Guedes até fingiu apenas espírito público para permanecer no posto como altruísta que é. O terreno “amigo” no Senado impediu que ele fosse provocado como era esperado que seria na Câmara no dia anterior.
Agora é imprescindível que a articulação política do governo passe a atuar de maneira efetiva e não apenas restrita a ataques em redes sociais. Negociar politicamente não significa ceder a chantagens e a pressões como propõe essa “nova política”. Enquanto o presidente continuar desferindo críticas públicas contra a Câmara, será natural que os deputados reajam. E o mesmo vai acontecer com o Senado, quando a efervescência dos projetos desembarcar por lá – até o momento os dois carros-chefes do governo, a reforma da Previdência e o pacote anticrime, não têm previsão exata de serem apreciados pelos senadores.
Bolsonaro tem perdido a queda de braço para o Congresso e fazer um levante contra os parlamentares não vai ajudar. Assim como postergar a resolução para a crise já instalada no relacionamento com membros da Câmara. Para governar, Bolsonaro precisa, inicialmente, fazer uma coisa bem simples: descer do palanque.
Este texto integra o comentário desta quinta-feira (28) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Excelsior, Irecê Líder FM, Clube FM e RB FM.
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