Gostaria de relatar,
publicar e compartilhar este acontecimento que vivi no último domingo que
culminou com o falecimento de meu pai. O fato relata o descaso, a falta de
atenção, o pouco caso que vem sendo dado a saúde das pessoas no Hospital Geral
Luiz Viana Filho, onde o povo é atendido nos corredores, sem macas, em
cadeiras de rodas e, muitas vezes, até mesmo no chão.
Domingo dia 10 de
junho ele estava internado no Abrigo São Vicente, entidade que dá aos idosos
atenção e carinho como vejo poucos locais no mundo fazerem. Foi levado ao
hospital regional por estar fraco e com uma das pernas muito inchadas
aparentado estarem apresentando Erisipela.
Acompanhado de uma
enfermeira graduada e um atendente de enfermagem ele foi levado às 14 horas à
urgência do regional pra receber atendimento devido à gravidade da situação e
no abrigo não eram suficiente os recursos locais. Chegando ao regional, sem
macas, meu pai foi posto numa cadeira de rodas sem descanso para os pés. O
médico plantonista depois de demora considerável o atendeu superficialmente,
alegando que só o atendia pela idade, mas que já estava indo embora e não
atenderia mais ninguém. Passou os olhos em meu pai, pôs um soro e saiu.
Para encontrar e veia
e aplicar este tal soro, aí começa outro sofrimento. Muito magro os enfermeiros
não encontraram a veia e usaram como acesso a jugular no pescoço do meu velho,
uma dor, uma tortura. Depois de aplicado este soro, meu pai permaneceu sem
atendimento numa cadeira de rodas, amparado pacientemente pela enfermeira do
abrigo, que jamais se afastou dele e ficou segurando seu pescoço durante mais
quase 3 horas com as próprias mãos. Sim por que nestas três horas meu pai
continuava numa cadeira de rodas, com a perna que apresentava Erisipela
liberando uma água que já formava uma poça no corredor do hospital. Meu pai
gemia, gritava de dor e cansaço de estar sentado há horas naquela cadeira. A
moça com câimbra nos braços de tanto tempo segurando seu pescoço.
Eu chorava ao ver
aquela cena. Era triste ver meu pai jogado ali, como um lixo humano e ninguém
conseguia ver o sofrimento daquele velho homem pobre, alem de mim, meu irmão e
os enfermeiros do abrigo.
Nenhuma maca apareceu.
Nenhum médico apareceu. Ninguém veio olhar a perna de meu pai, isso já há mais
de 4 horas. Nem mesmo um médico qualquer para que pudéssemos tirar ele
daquele lugar horroroso, pois só um médico poderia fazer isso. A infecção
aumentando e meu pai desfalecendo. Depois de tanta dor, humilhação e
sofrimento, mais de 7 horas da noite, o médico do abrigo, que não estava na
cidade chegou e foi até o hospital, atendeu meu pai, olhou, assistiu, deu
carinho, afago, atenção e arrancou dele aquele que deve ter sido seu ultimo
sorriso.
Decidimos interná-lo
no hospital São José. Sem ambulância este médico anjo carregou meu pai no colo
e levou ele em seu próprio carro. Chegando no São José, uma equipe atenciosa,
carinhosa e atenta já o esperava.
Fizeram de tudo,
mas meu velho não aguentou e morreu. Meu Deus que desespero.
Não sei se o pouco
caso do hospital regional o levou a morte. Mas, sem dúvida, queria que nas últimas
horas de sua vida ele fosse tratado com respeito e dignidade. E ali isso ele
não teve.
Gostaria de agradecer
a todos do Abrigo São Vicente e do Hospital São José pela atenção e carinho que
recebemos o tempo todo. Escrevo aqui minha indignação e acho até que
escrevi pouco. Mas estou a disposição de qualquer pessoa que queira conversar
mais comigo sobre este fato lamentável assim, eu posso falar até o que eu posso
não ter descrito aqui.
RILDO MOTA
Fiquei extremamente triste, chocado com o ocorrido. Não por ter sido com o pai de alguém que gosto muito (Rildo) mas por constatar que o descaso, a negligência, a saúde pública em Ilhéus vai de mal a pior.
ResponderExcluirLamento muito pelo trágico acontecimento meu amigo, mas que seu artigo além de um desabafo seja um alerta ao caos em que estamos vivendo.
Pagamos impostos, cumprimos com nossas obrigações de cidadão e o mínimo que merecemos é RESPEITO, algo que anda em extinção por esses lados de cá.
Ê Ilhéus.....
C.